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Entrevista

Editora(E):  Quem é Matthias Zavhery?

Matthias Zavhery (MZ): Eu sou um escritor angolano.

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(E):  (risos).  Dizem que Matthias Zavhery é um pseudônimo?  Procede?

(MZ): Pseudônimos são nomes falsos. Escritores usam, por algum motivo, para disfarçarem ou não revelarem suas verdadeiras identidades. Não procede.

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 (E):  Como surgiu a sua motivação para escrever?

(MZ): Escrever sempre foi a minha principal motivação na vida. Na verdade foi o que me salvou e me fez manter a “lucidez” (risos) nesse mundo enlouquecido.

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(E):  É verdade que seus posts e livros falam sempre sobre polêmicas envolvendo a medicina?

(MZ): Na grande maioria das vezes sim. Minha vida sempre foi, direta ou indiretamente,  envolvida com assuntos  de médicos e hospitais. Aliás, a vida de qualquer pessoa tem sempre um acontecimento negativo envolvendo a medicina. Todo mundo tem sempre uma história de família para contar de situações mal resolvidas. Suspeitas de condutas médicas desnecessárias, exageradas ou mesmo falhas, muitas vezes extremamente danosas ou mesmo fatais e, principalmente,  comportamentos  de médicos arrogantes  que desprezam os pacientes e seus familiares principalmente quando confrontados. Essa é basicamente minha inspiração.

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(E):  Seu objetivo então é fazer duras críticas à medicina e aos médicos?

(MZ): O foco do meu trabalho não é a crítica negativa à medicina ou aos médicos. Não é esse o meu propósito. A medicina tem muitas coisas boas e existem muitos médicos bons e éticos.  Meu objetivo é revelar, através de estórias baseadas em fatos verdadeiros, um lado muito perigoso que a medicina tem e, a partir daí, fazer com que as pessoas, profissionais de saúde e até mesmo médicos não sejam tão “inocentes” diante da medicina. Eu diria, na verdade, diante do “Sistema Médico”. Esse, sim, é o grande vilão que faz do médico a sua principal vítima e a partir daí, consequentemente, uma sucessão de estragos num efeito dominó. Já dizia um grande pensador da medicina: “o médico quando estudante é um idealista, mas quando profissional, um cínico”.

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(E):  Porque os seus textos estão carregados de sofrimentos, fatalidades e tragédias?

(MZ): Meu trabalho é basicamente pautado no “lado B” da medicina e na “sombra” do médico. Aquilo que é varrido para debaixo do tapete e que ninguém quer ver ou, pior ainda, deixar ser visto. Nesse sentido não há nenhum glamour na medicina. O outro lado, e que é o mais predominante no contexto do Sistema Médico,  é um cotidiano  de muita dor, muito descaso, muita frieza, muito abandono, muito sofrimento, muito erro, muita perda, muita morte e principalmente muito, muito choro. Resumindo meus escritos falam de situações habituais de uma dura realidade que, na maioria das vezes, as pessoas resumem em “deixa pra lá”.

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(E):  Há rumores de que você foi ou é médico. Isso é verdade?

(MZ): Não sou médico. Sou um escritor. Entretanto convivi diuturnamente no mesmo espaço de um médico durante longos anos. Dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço, mas duas almas ocupam o mesmo lugar num corpo. (risos). Apesar de ocupar um mesmo endereço biológico nunca me misturei com o médico. Somos muito diferentes. Sempre tive uma vida imaginária muito intensa, mas extremamente solitária e silenciosa.  Todas as minhas manifestações na vida sempre foram por escrito.

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(E):  O médico a que se refere é o seu tio que você fala aqui no site na sua biografia?

(MZ): Meu tio, Dr. Amaro Tavares Vital, foi um grande médico e foi vítima da medicina assim como o seu filho também. Muitas das minhas estórias foram inspiradas nas nossas conversas. Entretanto não é com ele que divido o mesmo corpo. (risos)

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(E):  Seu endereço biológico é o mesmo de um médico? (risos).

(MZ): (risos). Sim, é o mesmo endereço apesar de termos nascidos em cidades diferentes. Ele nasceu em Petrópolis e eu nasci em Luanda. (risos) Além do local de nascimento temos várias diferenças.

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(E): Qual a principal diferença entre vocês?​

(MZ): Eu sou filho de um indiano com uma húngara. A mãe da minha avó paterna, Rosa Cincinato, minha bisavó, foi escrava negra em Goa na Índia. Já os pais do meu avô paterno eram indianos hindus.  Por parte de mãe todos eram húngaros. Eu nasci em Angola e cresci em Portugal. O médico nasceu em Petrópolis no Brasil onde cresceu e seus pais eram brasileiros.

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(E):  E quem é esse médico? Fale um pouco sobre ele.

(MZ):  O médico fala por ele mesmo.  Se quiser detalhes é só acessar o site dele.

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(E):  Isso tem alguma coisa de mediunidade?

(MZ):  Absolutamente nada tem a ver com isso. Minha pessoa é imaginariamente Real.

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(E):  Matthias Zavhery então não é concretamente verdadeiro. É pura imaginação?

(R): Isso é totalmente relativo e depende do que cada um considera como verdadeiro. Para mim o mundo imaginário é mais verdadeiro que o mundo concreto.

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(E):  Poderíamos  dizer então  que Matthias Zavhery é um Heterônimo?

(MZ): No sentido criado  por Fernando Pessoa, que foi para mim um dos maiores gênios da literatura e uma das minhas maiores fontes de inspiração, sim. “Heterônimo é outro nome no sentido de que é outro ser, outra pessoa, outra forma de escrever. É como se o autor fosse capaz de criar outro autor diferente dele mesmo. Fernando Pessoa chama esse outro autor de Heterônimo. Não criou esse termo como uma simples brincadeira. Isso na verdade envolve um jogo profundo da identidade do sujeito criador em todos os sentidos”.

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